quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Tragédia natural? Não. Tragédia moral, contudo, tragédia!

Evitar o inevitável é possível? No caso da tragédia do Rio de Janeiro e maior desastre climático do Brasil, o inevitável era mais que é evitável, era presumível e esperado por todos aqueles que desfrutam dessa quimera chamada inteligência. 

 A inteligência é a responsável por nos distinguir dos nossos ancestrais primatas e nos colocar no topo da cadeia evolutiva. Sério? 

 Fazendo uma comparação chula, entre o número de vidas humanas perdidas e o número de vítimas primatas perdidas nas enchentes e deslizamentos do Rio de Janeiro, quem evoluiu de fato? Quem compreende e respeita mais o mundo em que vive? O fato é que o ser humano se distanciou tanto da compreensão dos avisos e sinais que a natureza envia e ignora as forças naturais de tal forma, que não respeita o limite da convivência saudável com o ecossistema circundante, nem em seu próprio favor e para sua própria sobrevivência. Inebriados e iludidos pelo Antropocentrismo, no qual todos os recursos da natureza estão à sua disposição, o ser humano se dá ao direito de interferir, alterar e recriar ecossistemas, aos quais nem ao menos entende completamente. 

 De um mundo centrado em Deus na idade média – o TEOCENTRISMO - passamos a um mundo centrado nos homens – o ANTROPOCENTRISMO. No primeiro se matava em nome de Deus e por sua glória, no segundo, se mata em nome do homem e por sua glória. Se fosse fazer um diagnostico de gestão, do mundo sob a égide de cada teoria, acredito que deveríamos buscar uma terceira opção, onde o mundo fosse centrado em si próprio e em todas as criaturas que nele habitassem. Essa terceira via, alguns já chamam de ECOCENTRISMO, BIOCENTRISMO, etc. O que me preocupa é se como nas teorias anteriores, não vamos começar a nos matar em nome do ecossistema e da biodversidade...

 Pensando nisso vem à mente uma idéia simples, se nós, seres humanos, sendo os únicos no cosmos despertos da nossa condição de aglomerados de átomos – tal qual como todo o restante – para a consciência viva e sendo os únicos agentes morais do universo, não teríamos a responsabilidade moral de “tomar de conta” das demais criaturas naturais? Para a nossa própria sobrevivência, fato inerente a própria vida, mas também pela obrigação moral que tem o mais forte de cuidar do mais fraco, o mais novo do mais velho, o mais sábio de dividir sua sabedoria com o menos sábio.

 Na dor da perda e na angustia de recomeçar do zero, atribuímos à culpa ou a responsabilidade dos acontecimentos naturais aos nossos líderes, aos governos, e estamos certos, ao menos em parte. Escolhemos essas pessoas, para cuidarem da coletividade e de seu bem estar, garantindo as condições mínimas de sobrevivência e dignidade. A corrupção, a tomada de decisão em interesse próprio, o desleixo com a coisa pública, e principalmente o descaso com o outro ser humano concorrem para a irresponsabilidade estampada nos desastres do Rio de Janeiro. Não é só uma questão político-administrativa.

 Contudo, a inteligência me nega o direito de não reconhecer a parcela de responsabilidade que eu mesmo carrego ao ser omisso em meus atos e ignorar ou desrespeitar o meio ambiente do qual faço parte todas as vezes que deixo um lixo cair na rua, que não separo nem reciclo meu lixo, que despejo óleo pelo ralo da minha pia, que ligo meu automóvel, que peço duas, três às vezes quatro sacolas para um mesmo produto no supermercado e depois as descarto sem a mínima consciência da implicação daquele ato. Quando tomo banho demoradamente, escovo os dentes ou me barbeio com a torneira aberta, sem pressa alguma.

Chego à conclusão que aos seres humanos – os "antigos" homens das Cavernas - pouco resta verdadeiramente de natural, nos esforçamos tanto ao longo do tempo para nos distanciar e nos diferenciar dos nossos ancestrais primatas, que acabamos por nos esquecer de onde viemos e agora não sabemos para onde vamos enquanto espécie e ser vivo, nada mais que isso.

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