quarta-feira, 20 de abril de 2011

De grão em grão...




Recentemente em diversas entrevistas nos mais variados meios de comunicação, o Secretário de Cultura da Paraíba, o cantor e compositor – Chico Cezar – tem declarado que o governo do Estado não vai pagar por “forró de plástico” nem shows de “duplas sertanejas”, nem mesmo se o Estado estive-se “nadando em dinheiro, coisa que não está”.

 O governo tomou por prioridade o resgate à cultura paraibana e nordestina. 

 Ótimo!

Recorrendo a pesquisa, evidencia-se que a carreira de músico e compositor do Secretário, como a de muitos outros artistas paraibanos e nordestinos, só deslanchou em São Paulo. 

Podemos afirmar que isso ocorreu justamente por falta de incentivo e de oportunidades no Estado da Paraíba e não se erraria ao fazer tal afirmação.

Recorrendo ao conceito mais aceito sobre o que é cultura, segundo Edward B. Tylor,

“aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.

Escolher o que a população deve escutar é o primeiro passo?, qual será o segundo, escolher o que a população deve assistir? E o terceiro, o que a população deve ler?
  
Em nome do “resgate” da cultura nordestina, devemos todos nos vestir de cangaceiros? Andar de carroça?

Acredito que o caminho não seja este. O governo pode e deve estabelecer critérios para a utilização de recursos públicos, contudo, sem estigmatizar ou diminuir qualquer expressão Cultural que seja.

O que mais NÃO é Cultura na Paraíba? 

Bem, se tais afirmações tiverem eco no governo do Estado, então, só nos resta agora criar – se é que já não foi criado – um departamento na Secretaria de Cultura, sugiro como nome - DOI-CODI – para filtrar as letras das músicas antes de sua gravação e selecionar o que é e o que NÂO é Cultura na Paraíba.

O Secretario recorre ao exemplo da prefeitura de João Pessoa, para falar em cultura popular, em artista popular, artista da terra.

Os shows na orla de Tambaú – Estação Nordeste - pagos com recursos públicos, não foram exatamente com artistas da terra, nem tão pouco, resgataram a cultura pessoense e nordestina. 

Vimos no palco Maria Bethânia, Margareth Menezes, Gabriel o pensador, Zeca Baleiro, Ana Carolina, Manu Chao, entre outros. Nada contra. Curto bastante alguns...

Mas cadê o xote, o xaxado, o baião, o pé-de-serra? Onde estavam Elba Ramalho, Zé Ramalho, Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda, Herbert Viana, Renata Arruda, Roberta Miranda? Todos paraibanos e nordestinos. E tantos outros com a mesma qualidade ou melhores, porém ainda desconhecidos do público.

O que falta na Paraíba senhor Secretário, são políticas públicas que gerem oportunidades e fomentem novos talentos musicais. Para que não seja mais necessário, como o seu próprio exemplo, ter que se encaminhar para São Paulo, para ter uma chance em mil, de ter uma carreira de sucesso.

De maneira geral, não é apenas na música que faltam incentivos, na poesia, no teatro, no cinema, no canto e na dança. Nossos artistas há muito tempo estão à mercê da sua própria sorte!

Reprimir e perseguir “forró de plástico” e “dupla sertaneja” não é o caminho para desenvolver nosso potencial cultural e artístico. 

Fica a dica!

Um comentário:

  1. A diferença é que o São João é uma celebração da cultura popular, e que o estação nordeste é apenas um festival durante as férias.

    Cada cidade na Paraíba tem seu próprio orçamento pra cultura, e muitas delas preferem investir no São João chamando bandas de "forró de plástico".
    Quem pagaria 30 reais pra ver um show de trio pé de serra?
    Agora me diga quantas pessoas pagam pra ver um show de aviões do forró?

    Não é ditadura e nem perseguição, é questão de que pelo menos no mês de junho, os artistas locais sejam colocados em primeiro plano, e poder oferecer muito mais dias de festa pra população.

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