sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Com atraso de 8 anos, PSDB ‘exibe’ FHC na televisão

Oito anos e três sucessões presidenciais depois de ter deixado o Planalto, FHC será resgatado do "exílio" político que o tucanato lhe havia imposto.
Foi guindado à condição de protagonista do primeiro programa partidário do PSDB do ano de 2011 –dez minutos, em rede nacional de rádio e TV.
Vai ao ar na noite da quarta-feira (2) da semana que vem, em horário nobre. Além de estrelar a peça, FHC concebeu o roteiro.
Teve como conselheiro informal o publicitário Marcello Serpa, sócio da agência AlmapBBDO, um neófito em marketing político.
A aparição de Fernando Henrique Cardoso descerá à crônica do PSDB como uma espécie de expiação histórica da legenda.
Depois de amargar três derrotas presidenciais –2002, 2006 e 2010— o tucanato se deu conta de que o confinamento de FHC no armário foi um erro.
A contrição tardia chega depois que ruíram todas as alegações que justificaram a ocultação de FHC e de suas duas presidências.
O tucanato entrega-se agora ao exercício do remorso numa tentativa de atribuir utilidade política ao arrependimento.
Vai-se tentar traduzir para a linguagem das ruas as teses que FHC desfia em artigos que leva às páginas dos jornais em periodicidade mensal.
O miolo da mensagem realça um vocábulo caro a FHC: “processo”. Tenta-se demonstrar que o progresso do Brasil é obra coletiva.
Dito de outro modo: o PSDB venderá a tese de que o êxito de Lula começou a ser construído bem antes de 2003, num “processo” que traz as digitais de FHC.
Na prática, o tucanato esforça-se para construir um futuro a partir da reconstrução do seu passado. Vai, finalmente, assumir a ‘Era FHC’, da qual parecia envergonhar-se.
O ex-presidente achega-se à boca do palco num instante em que o PSDB se autoflagela numa guerra subterrânea. De um lado, José Serra. Do outro, Aécio Neves.
A maioria da legenda –FHC inclusive— enxerga em Aécio a melhor opção para 2014. Serra, porém, não se deu por achado.
O confronto não declarado manifesta-se nos procedimentos mais comezinhos da rotina partidária.
Materializou-se, por exemplo, há dois dias, numa reunião da bancada de deputados federais do PSDB.
No encontro, os deputados tucanos escolheram seu novo líder, Duarte Nogueira (SP), um político alinhado com o governador paulista Geraldo Alckmin.
Aproveitou-se o congraçamento da bancada para correr um abaixo-assinado em favor da recondução de Sérgio Guerra (PE) à presidência do PSDB federal.
Ouvido, Aécio pôs-se de acordo. Aconselhou a Sérgio Guerra que fosse obtido o assentimento de Alckmin.
Procurado, Alckmin enxergou certo açodamento na manobra. Mas não opôs obstáculos. Desceram ao papel 54 assinaturas.
A folha vai à Executiva do partido e à convenção de maio, quando serão escolhidos os novos dirigentes do PSDB, como sinalização da preferência da bancada.
Supreendido, Serra zangou-se. Estrilou em privado. Embora não admita em público, rumina a pretensão de presidir o PSDB. Algo que a infantaria de Aécio quer evitar.
Simultaneamente, inaugurou-se na bancada de senadores do PSDB um movimento em favor da acomodação de Tasso Jereissati no Instituto Teotônio Vilela.
A entidade se ocupa da formulação de análises e estudos que “orientam” o partido. Cogitara-se entregar o posto a Serra. Mas, sondado, ele refugou a cadeira.
Arrisca-se agora a ter de digerir a ascensão de Tasso (CE). Barrado nas urnas de 2010, o agora ex-senador é velho desafeto de Serra. Toca pela partitura de Aécio.
É sob essa atmosfera de franca conflagração que FHC recupera os refletores. Vai à TV e ao rádio como estrela solitária. Serra e Aécio não darão as caras no programa.

Fonte: http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br

sábado, 22 de janeiro de 2011

Para especialista, aumento de tarifa segue lógica do negócio...

De acordo com Lúcio Gregori, enquanto o transporte for entendido como um negócio, os aumentos de tarifas vão continuar a ocorrer
18/01/2011

Michelle Amaral
da Redação

Até a primeira quinzena de janeiro foram registrados reajustes nas tarifas dos ônibus municipais em pelo menos quinze grandes cidades brasileiras e há a previsão de que as passagens de seis cidades ainda sejam reajustadas. Em três cidades o aumento ocorreu já no final de 2010.

Das dez maiores regiões metropolitanas pelo menos 6 anunciaram aumento. Mais de 56 milhões de pessoas que vivem nas regiões com grande densidade populacional estão sendo afetadas pelos reajustes das passagens.

O engenheiro Lúcio Gregori, que foi secretário de transportes da cidade de São Paulo entre 1990 e 1992, durante a gestão da prefeita Luiza Erundina (então no PT), explica que os aumentos das passagens são resultado do modelo de transporte adotado em nosso país. “O transporte é um negócio como qualquer outro e como tal tem que ter as correções dos preços cobrados para corrigir os custos crescentes”, completa.
Na opinião do engenheiro, a única forma de reverter esse quadro é haver uma mudança do pensamento coletivo em que o transporte urbano deixe de ser entendido como um negócio e passe a ser tratado como um direito da população.

“O transporte público tem que ser tratado como um direito, assim como saúde e a educação. Para chegar a um hospital e ser atendido, você precisa do transporte. Para ir à escola, você precisa do transporte”, defende Gregori.

Segundo o ex-secretário de transportes, discutir se o reajuste das tarifas foi justo ou injusto não resolve o problema, porque revela a aceitação do modelo de transporte como um negócio.
Gregori defende que o transporte seja custeado pelo poder público como os demais direitos básicos. Segundo ele, a solução passa pelo seguinte pensamento: a tarifa, num primeiro momento, deve ser subdidiada no máximo percentual possível e, a longo prazo, no seu valor total.
Hoje o subsídio existe em muitas cidades e, mesmo assim, as tarifas continuam a ser cobradas e reajustadas regularmente.

Na cidade de São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) além de anunciar um reajuste de 11,11% nas tarifas dos ônibus municipais, que passou a vigorar no dia 5 de janeiro, disse também que o subsídio para o setor deve ficar em torno de R$ 600 milhões. No entanto, no orçamento municipal de 2011, os vereadores governistas autorizaram o Executivo a usar até R$ 743 milhões para bancar as despesas referentes às compensações tarifárias.

Mobilização
Gregori defende que a discussão que deve ser feita pela sociedade não é sobre se é justo ou não o aumento da tarifa. Segundo ele, deve-se discutir a questão da mobilidade urbana no país como um todo e o entendimento que se deve ter em relação ao transporte coletivo. “Enquanto o transporte coletivo for entendido como negócio e não como um direito, essa discussão, se a tarifa é justa ou não, não acabará nunca”, lamenta.

Além disso, o engenheiro aponta como forma de mobilização os protestos de rua, mas explica que a opção em se aplicar os reajustes nessa época do ano, em que grande parte da população está em período de férias, tem um caráter político, justamente porque espera-se pela desmobilização de setores importantes para a luta contra o aumento das passagens, como os estudantes. “A sociedade está mais desmobilizada, é o momento oportuno”, conta.

Desde que foram anunciados os aumentos nas tarifas dos ônibus protestos têm sido realizados em algumas cidades e espera-se que eles ganhem mais força com a volta às aulas, no próximo mês.

Em São Paulo (SP), na última quinta-feira (13), a polícia militar reprimiu duramente uma manifestação realizada pelo Movimento Passe Livre (MPL), resultando em 30 militantes detidos e 10 feridos. O mesmo ocorreu em João Pessoa (PB), onde dois estudantes acabaram feridos no confronto com a PM. Protestos também têm sido realizados em Salvador (BA), pelo movimento chamado Revolta do Buzu 2011.

Na próxima quinta-feira (20), o MPL de São Paulo realizará mais uma manifestação. O ato contra o aumento das passagens será realizado na Praça do Ciclista, na esquina da Avenida Paulista com a Rua Consolação, a partir das 17 hs.

Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/5492

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Tragédia natural? Não. Tragédia moral, contudo, tragédia!

Evitar o inevitável é possível? No caso da tragédia do Rio de Janeiro e maior desastre climático do Brasil, o inevitável era mais que é evitável, era presumível e esperado por todos aqueles que desfrutam dessa quimera chamada inteligência. 

 A inteligência é a responsável por nos distinguir dos nossos ancestrais primatas e nos colocar no topo da cadeia evolutiva. Sério? 

 Fazendo uma comparação chula, entre o número de vidas humanas perdidas e o número de vítimas primatas perdidas nas enchentes e deslizamentos do Rio de Janeiro, quem evoluiu de fato? Quem compreende e respeita mais o mundo em que vive? O fato é que o ser humano se distanciou tanto da compreensão dos avisos e sinais que a natureza envia e ignora as forças naturais de tal forma, que não respeita o limite da convivência saudável com o ecossistema circundante, nem em seu próprio favor e para sua própria sobrevivência. Inebriados e iludidos pelo Antropocentrismo, no qual todos os recursos da natureza estão à sua disposição, o ser humano se dá ao direito de interferir, alterar e recriar ecossistemas, aos quais nem ao menos entende completamente. 

 De um mundo centrado em Deus na idade média – o TEOCENTRISMO - passamos a um mundo centrado nos homens – o ANTROPOCENTRISMO. No primeiro se matava em nome de Deus e por sua glória, no segundo, se mata em nome do homem e por sua glória. Se fosse fazer um diagnostico de gestão, do mundo sob a égide de cada teoria, acredito que deveríamos buscar uma terceira opção, onde o mundo fosse centrado em si próprio e em todas as criaturas que nele habitassem. Essa terceira via, alguns já chamam de ECOCENTRISMO, BIOCENTRISMO, etc. O que me preocupa é se como nas teorias anteriores, não vamos começar a nos matar em nome do ecossistema e da biodversidade...

 Pensando nisso vem à mente uma idéia simples, se nós, seres humanos, sendo os únicos no cosmos despertos da nossa condição de aglomerados de átomos – tal qual como todo o restante – para a consciência viva e sendo os únicos agentes morais do universo, não teríamos a responsabilidade moral de “tomar de conta” das demais criaturas naturais? Para a nossa própria sobrevivência, fato inerente a própria vida, mas também pela obrigação moral que tem o mais forte de cuidar do mais fraco, o mais novo do mais velho, o mais sábio de dividir sua sabedoria com o menos sábio.

 Na dor da perda e na angustia de recomeçar do zero, atribuímos à culpa ou a responsabilidade dos acontecimentos naturais aos nossos líderes, aos governos, e estamos certos, ao menos em parte. Escolhemos essas pessoas, para cuidarem da coletividade e de seu bem estar, garantindo as condições mínimas de sobrevivência e dignidade. A corrupção, a tomada de decisão em interesse próprio, o desleixo com a coisa pública, e principalmente o descaso com o outro ser humano concorrem para a irresponsabilidade estampada nos desastres do Rio de Janeiro. Não é só uma questão político-administrativa.

 Contudo, a inteligência me nega o direito de não reconhecer a parcela de responsabilidade que eu mesmo carrego ao ser omisso em meus atos e ignorar ou desrespeitar o meio ambiente do qual faço parte todas as vezes que deixo um lixo cair na rua, que não separo nem reciclo meu lixo, que despejo óleo pelo ralo da minha pia, que ligo meu automóvel, que peço duas, três às vezes quatro sacolas para um mesmo produto no supermercado e depois as descarto sem a mínima consciência da implicação daquele ato. Quando tomo banho demoradamente, escovo os dentes ou me barbeio com a torneira aberta, sem pressa alguma.

Chego à conclusão que aos seres humanos – os "antigos" homens das Cavernas - pouco resta verdadeiramente de natural, nos esforçamos tanto ao longo do tempo para nos distanciar e nos diferenciar dos nossos ancestrais primatas, que acabamos por nos esquecer de onde viemos e agora não sabemos para onde vamos enquanto espécie e ser vivo, nada mais que isso.