Recentemente em diversas entrevistas nos mais variados meios de comunicação, o Secretário de Cultura da Paraíba, o cantor e compositor – Chico Cezar – tem declarado que o governo do Estado não vai pagar por “forró de plástico” nem shows de “duplas sertanejas”, nem mesmo se o Estado estive-se “nadando em dinheiro, coisa que não está”.
O governo tomou por prioridade o resgate à cultura paraibana e nordestina.
Ótimo!
Recorrendo a pesquisa, evidencia-se que a carreira de músico e compositor do Secretário, como a de muitos outros artistas paraibanos e nordestinos, só deslanchou em São Paulo.
Podemos afirmar que isso ocorreu justamente por falta de incentivo e de oportunidades no Estado da Paraíba e não se erraria ao fazer tal afirmação.
Recorrendo ao conceito mais aceito sobre o que é cultura, segundo Edward B. Tylor,
“aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
Escolher o que a população deve escutar é o primeiro passo?, qual será o segundo, escolher o que a população deve assistir? E o terceiro, o que a população deve ler?
Em nome do “resgate” da cultura nordestina, devemos todos nos vestir de cangaceiros? Andar de carroça?
Acredito que o caminho não seja este. O governo pode e deve estabelecer critérios para a utilização de recursos públicos, contudo, sem estigmatizar ou diminuir qualquer expressão Cultural que seja.
O que mais NÃO é Cultura na Paraíba?
Bem, se tais afirmações tiverem eco no governo do Estado, então, só nos resta agora criar – se é que já não foi criado – um departamento na Secretaria de Cultura, sugiro como nome - DOI-CODI – para filtrar as letras das músicas antes de sua gravação e selecionar o que é e o que NÂO é Cultura na Paraíba.
O Secretario recorre ao exemplo da prefeitura de João Pessoa, para falar em cultura popular, em artista popular, artista da terra.
Os shows na orla de Tambaú – Estação Nordeste - pagos com recursos públicos, não foram exatamente com artistas da terra, nem tão pouco, resgataram a cultura pessoense e nordestina.
Vimos no palco Maria Bethânia, Margareth Menezes, Gabriel o pensador, Zeca Baleiro, Ana Carolina, Manu Chao, entre outros. Nada contra. Curto bastante alguns...
Mas cadê o xote, o xaxado, o baião, o pé-de-serra? Onde estavam Elba Ramalho, Zé Ramalho, Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda, Herbert Viana, Renata Arruda, Roberta Miranda? Todos paraibanos e nordestinos. E tantos outros com a mesma qualidade ou melhores, porém ainda desconhecidos do público.
O que falta na Paraíba senhor Secretário, são políticas públicas que gerem oportunidades e fomentem novos talentos musicais. Para que não seja mais necessário, como o seu próprio exemplo, ter que se encaminhar para São Paulo, para ter uma chance em mil, de ter uma carreira de sucesso.
De maneira geral, não é apenas na música que faltam incentivos, na poesia, no teatro, no cinema, no canto e na dança. Nossos artistas há muito tempo estão à mercê da sua própria sorte!
Reprimir e perseguir “forró de plástico” e “dupla sertaneja” não é o caminho para desenvolver nosso potencial cultural e artístico.
Fica a dica!