sábado, 8 de setembro de 2018

Espelho da Vida

Poderia a "nossa" vida ser apenas um espelho dela mesmo?

Vivemos com a certeza que nossas decisões atuais determinarão nosso futuro. Contudo, essa premissa, para ser verdadeira, necessita que o tempo seja linear, o que tornaria possível a perspectiva de causa e efeito. O tempo como uma variável tridimensional, por exemplo, nos daria inúmeras outras possibilidades para a mesma decisão, em cada dimensão.

Se passarmos a compreender o tempo como uma variável não-linear, perderíamos a noção de causa e efeito, assim como nossas decisões atuais passariam a não mais determinar nosso futuro. De certa forma, perderíamos nosso suposto "controle", sobre quem somos e aonde queremos chegar ou ser nesse mundo.

Mas como isso seria possível? Ora, se eu fumo, é grande a possibilidade de desenvolver algum tipo de câncer no futuro. De pulmão aumenta em 40 vezes a chance, chegando a 90% o relacionamento entre o hábito de fumar e o câncer de pulmão, segundo o centro especializado em oncologia, Oswaldo Cruz. 

Contudo, apesar de possível, não é provável. Como assim? Bem, não existem pesquisas, minimamente sérias, que estimem quantos fumantes, com grandes probabilidades de morrerem de câncer, morreram de outras causas não relacionadas ao cigarro. Por exemplo: O cara termina de jantar, vai fumar. Verifica que o cigarro acabou. Avisa a esposa que vai na esquina comprar um maço, sai de casa, caminha 20 passos e é atropelado enquanto olhava à frente para ver se a banca ainda estava aberta e descuidou-se ao atravessar a rua. Fatalidade? Futuro determinado? Essa morte, está ou não relacionada ao cigarro? É possível que quando esse rapaz, não sei bem, não o conheço. Mas, quando esse rapaz, aceitou o primeiro trago, um, ou dois anos antes, ou talvez dez ou vinte anos, sei lá, ele determinou de forma absoluta e certa a data e hora de sua morte? Ele "se marcou", para um "destino"? Nem gosto de usar essa palavra, parece mística. Mas ele "se marcou" para um destino irreversível? Irremediável? Morrer, em função do cigarro? Uma simbiose perfeita, entre criador e criatura? Não acredito.

Imagine só. Voltando a perspectiva de tempo e a relação de causa e efeito. Se eu quero aprender a tocar violão, a primeira coisa que faço é me - imaginar - tocando violão. Imagino a sensação, imagino tocando minha música favorita, as pessoas em volta, alguns amigos, alguns familiares, uma namorada talvez, uma fogueira, praia, lua...seria ótimo.

Da mesma forma, se tenho a pretensão de ser engenheiro, arquiteto, geógrafo, físico ou apenas um andarilho, sem residência fixa, a primeira coisa que faço é me - imaginar - me  - projetar -, nesses futuros possíveis. Alguns improváveis.

Quando tomamos uma decisão e olhamos para ela, ela também olha para nós. 

"Quando você olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você" Friedrich Nietzsche

De certa forma, não é causa/efeito, mas efeito/causa, por assim dizer.

O tempo não é linear. Não existem caminhos para serem seguidos. Certos ou Errados. Muitas de nossas "escolhas" ou decisões, nós nem fazemos ou tomamos. Moral, costumes, tradições, cultura, poder, hierarquia, amor, amizade, gratidão, decidem por nós. Apenas seguimos a caravana.

Dessa nova perspectiva, da premissa de um tempo não-linear, de que não estamos atrelados materialmente a relação de causa/feito de nossas decisões, me parece que estamos olhando para um espelho, soa até poético, o "espelho da vida", meio clichê, mas ainda poético. Olhamos para esse "espelho" e o que vemos nele, ou melhor, como nos vemos nele, é que determina nosso comportamento e nossas atitudes presentes.

Estamos expostos a muitas variáveis. Não podemos nos cobrar o "controle" sobre todas elas. Temos que reconhecer, que nossa participação se resume a 10% da obra. 

Pensar assim, simplifica o caminho, porque você já começa sendo o que você quer ser.





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